Segunda-feira que é feriado é quase que remédio santo. Quase que vejo as pessoas mais alegres, a suspirar de alívio porque esta segunda-feira não será tão horrível como as outras porque vai-se ficar em casa ou vai-se passear. Sendo feriado ou não, a segunda-feira é sempre uma óptima oportunidade para começarmos a semana com o pé direito. E se há tempo livre ainda melhor, pois uma boa auto-reflexão ajuda-nos a continuar o nosso caminho.
3. Olho os meus jovens estudantes numa pausa da aula. 20 anos, que coisa, 20 anos (ninguém tem 20 anos, penso). Depois olho-os outra vez, do mais brilhante – a quem acabei de dar 19 valores, coisa rara na faculdade – aos fracos das últimas filas, difíceis de controlar na sua tendência para conversar, consultar telemóveis ou, simplesmente, dormitar. Contemplo os jovens estudantes e sinto crescer em mim um sentimento que de início não entendo, não consigo explicar, é um aperto leve mas contínuo, um esgar de contrariedade, uma incomodidade inominada. Olho-os um a um enquanto falam à espera que eu retome a lição, já perplexos alguns, pelo ar estranho com que os fixo, um a um, fila a fila, medindo-os, avaliando-os, lamentando. E percebo ser de comiseração o sentimento que sinto, um sentimento de pena ao ver aqueles jovens, 20 anos de esperança, a sonhar com um futuro onde cabem empregos, realização pessoal e profissional, com rendimentos que os levem a viver tão bem ou melhor do que os pais viveram, como os pais em relação aos avós; olho-os com pena porque sei o que eles não sabem, ou sabendo-o rejeitam-no com o vigor da juventude que são, 20 anos, aos 20 não há impossíveis, mas eu sei que há, e tenho pena, não devia, faz-me pena ter pena. Detesto ter pena. E então revolto-me, sinto outro sentimento, de estima, de revolta, a minha pena é agora revolta e estima, estima por aqueles jovens tão jovens, têm 20, em breve 30, provavelmente o meu aluno de 19 valores viverá longe, noutro país, remunerado, feliz, alguns dos outros não, sobreviverão de estágios, empregos breves e mal pagos; sinto estima e revolta contra um sistema que condena a inteligência jovem do país a partir, ou manter-se num regime de precaridade insuportável. Da minha pena fez-se revolta. Ainda bem.