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Sobre os jovens desempregados

by - 12:29

Não sou de publicar coisas tristes ou negativas, muito menos aqui no Erre Grande, mas à semelhança deste artigo, esta crónica chamou-me à atenção e não poderia deixar de postar.



Neste artigo de opinião que encontrei, li-o com toda a calma e senti que estava a falar de uma realidade muito próxima - e isto acontece cada vez que se fala em jovens e em desemprego, porque é realmente uma situação frustrante, tal como descreve o parágrafo abaixo que transcrevo na íntegra:

3. Olho os meus jovens estudantes numa pausa da aula. 20 anos, que coisa, 20 anos (ninguém tem 20 anos, penso). Depois olho-os outra vez, do mais brilhante – a quem acabei de dar 19 valores, coisa rara na faculdade – aos fracos das últimas filas, difíceis de controlar na sua tendência para conversar, consultar telemóveis ou, simplesmente, dormitar. Contemplo os jovens estudantes e sinto crescer em mim um sentimento que de início não entendo, não consigo explicar, é um aperto leve mas contínuo, um esgar de contrariedade, uma incomodidade inominada. Olho-os um a um enquanto falam à espera que eu retome a lição, já perplexos alguns, pelo ar estranho com que os fixo, um a um, fila a fila, medindo-os, avaliando-os, lamentando. E percebo ser de comiseração o sentimento que sinto, um sentimento de pena ao ver aqueles jovens, 20 anos de esperança, a sonhar com um futuro onde cabem empregos, realização pessoal e profissional, com rendimentos que os levem a viver tão bem ou melhor do que os pais viveram, como os pais em relação aos avós; olho-os com pena porque sei o que eles não sabem, ou sabendo-o rejeitam-no com o vigor da juventude que são, 20 anos, aos 20 não há impossíveis, mas eu sei que há, e tenho pena, não devia, faz-me pena ter pena. Detesto ter pena. E então revolto-me, sinto outro sentimento, de estima, de revolta, a minha pena é agora revolta e estima, estima por aqueles jovens tão jovens, têm 20, em breve 30, provavelmente o meu aluno de 19 valores viverá longe, noutro país, remunerado, feliz, alguns dos outros não, sobreviverão de estágios, empregos breves e mal pagos; sinto estima e revolta contra um sistema que condena a inteligência jovem do país a partir, ou manter-se num regime de precaridade insuportável. Da minha pena fez-se revolta. Ainda bem.
Foi assim durante dois anos, enquanto procurava por uma oportunidade de fazer parte do mercado de trabalho. Agora que penso ter arranjado um espaço pequeno mas acolhedor, olho para trás para esses tempos e não sei como consegui persistir, como consegui passar dia após dia a não trabalhar, dia após dia a passar horas em websites de emprego, dia após dia a mandar currículos e a ir a algumas entrevistas, dia após dia a tentar procurar mais uma formação que me poderia ajudar em alguma coisa, dia após dia a pedir referências a amigos ou familiares. E eu sei que agora estou "livre" disso mas sei que muita gente continua neste ciclo vicioso, a desesperar dia após dia, quando ser jovem devia significar ter a vida pela frente. E cada vez que vejo mais um jovem licenciado ou com outros estudos, com determinação para trabalhar e aprender, cada vez que vejo alguém nesta situação sinto o mesmo que este senhor: primeiro pena porque não desejo essa situação a ninguém mas depois não quero ter pena e então fico revoltada.

Como é possível vivermos na época mais tecnologicamente avançada, com mais dinheiro, mais oportunidades, mais formação e qualificação e mesmo assim existir este inferno estúpido? Actualmente ser jovem é sentir que nos cortaram as asas antes de sequer deixarem-nos aprender a voar.

Não quero ter este tipo de discurso, muito menos aqui, mas parece que ser jovem é ter uma vida promissora hipotecada porque o diploma não chega, porque a experiência não existe, porque ninguém quer dar a experiência que não existe.

Noto que as coisas estão pouco melhores desde que sai da faculdade há 3 anos atrás mas ainda sinto que há imenso a fazer, porque não quero que os jovens de 19 e 20 anos passem por aquilo que passei, porque não é justo e não é normal. Esperemos que mude e agora já não tolero que mude apenas um pouco. Espero bem que mude e que mude rapidamente, porque hipotecar os jovens é hipotecar o futuro e isso não deve ser tolerado, seja em que sociedade for.

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