O dia em que apoiei o Jornalismo

by - 08:07

Desde o meu oitavo ano que queria ser jornalista.
Eu gostava de escrever e quem escreve são os jornalistas logo eu queria ser jornalista.


Fiz o secundário em Humanidades porque é lá que estão as pessoas que escrevem. E fui para a faculdade fazer o curso de Jornalismo, no politécnico, para ter uma componente mais prática, porque os jornalistas são práticos e mais do que aprender sobre a teoria dos media, eles precisam de saber escrever.
E fui para a faculdade de novo estudar Relações Internacionais porque o que eu queria mesmo era fazer jornalismo lá para fora, logo tinha de ter um pensamento internacional, logo tinha de saber assuntos internacionais, logo tinha de ter um curso em Relações Internacionais.

Isto tinha tudo para dar certo...menos a parte de que não consegui encontrar trabalho em Jornalismo. Comecei a ter outros interesses e o sonho foi ficando para trás. A única réstia dele está presente na vontade de escrever e no constante devorar de notícias, artigos e reportagens todos os dias, todos os minutos.

Contudo, nunca deixei de seguir o Jornalismo e os seus temas: a descredibilização dos grandes grupos de comunicação, a degradação dos salários da profissão, a falta de instrumentos e meios económicos para se fazer jornalismo de fundo, o desaparecimento de jornais, a ascensão da web, as questões éticas. Sempre defendi mais os jornalistas e o seu trabalho, porque muitos não têm a noção do constante stress que se vive em redacções a nível mundial: da rapidez de dar a notícia, de viver sobre a pressão das audiências, de sujeitar-se à pressão de editores que já perderam a magia de que podem mudar o mundo de uma forma certa e à pressão de administradores que não fazem puto de ideia o que é realmente uma informação relevante.

Com o cenário do jornalismo digital a fechar jornais e revistas porque não há jornalismo grátis, sinto-me no dever de contribuir para o Jornalismo. Se no início dizemos que não compramos jornais porque somos estudantes e não temos dinheiro para suportar os custos, quando chegamos à idade adulta e temos um emprego, começamos a pensar no que realmente importa investir. Se compramos uma revista mensal, ou jogamos no Euromilhões, ou tomamos sempre um cafezinho de manhã, porque não podemos dispensar 5 euros por mês a ajudar?

Nos últimos meses, assinei duas revistas de que gostava, durante um ano. Pareceu-me certo de que, se gosto daquele conteúdo, que deveria pagar por ele, para o ter todos os meses em minha casa e por estar a dar valor ao trabalho que muitas pessoas têm em dar-me informação que eu acho importante e relevante.

Mas hoje, dia 1 de fevereiro, fiz algo que realmente me importa: tornei-me supporter do Jornal The Guardian, contribuindo para o seu trabalho jornalístico, não só online, mas também em papel.
Já perdi a conta de vezes que li coisas no The Guardian.
Acho que tenho uma relação muito especial com o jornal. Conheço-o desde os meus 15 anos e era tipo O jornal, porque era O jornal que eu iria ler quando fosse viver para Londres (toda essa fantasia sobre eu e Londres deverá ficar para outra altura). É O jornal de referência a nível mundial. Gosto do conteúdo noticioso, da atualidade, de todos os artigos de opinião, dos artigos sobre cultura, desporto, música, dos artigos e reportagens sobre a história do século XX.

Nas últimas semanas, vi que abria muitos artigos do The Guardian e, ontem à noite, abri mais um, e no final, vinha uma caixa amarela a alertar as pessoas de que poderiam contribuir para o jornal. Já tinha visto aquelas letras pequenas no final tantas vezes mas hoje fez sentido tomar uma acção e contribuir. Quando acabamos de ler um artigo realmente estupendo e se alguém me dissesse que no final tinha de pagar por ele, pagaria de bom grado. E com o artigo do The Guardian sobre a morte da secretária de Goebbles, eu soube que estava na altura de contribuir, de fazer alguma coisa, de dar ao jornalismo a oportunidade de fazer mais e melhor.

Decidi contribuir para um bom jornal para que ele continue a fazer o seu trabalho, a investigar e a publicar as notícias que eu acho que são relevantes, sobre os temas que precisam de ser falados.
Quanto a apoiar jornais ou revistas portugueses, ainda estou a pensar sobre o assunto - mas certamente vai acontecer um dia. 
Decidi contribuir porque faz sentido. Porque mantermo-nos bem informados tem um custo - e eu prefiro pagar alguma coisa para ter uma sociedade informada do que viver na ignorância grátis.

Durante um ano, sou contribuidora do The Guardian, sou contribuidora de um melhor jornalismo.

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2 comentários

  1. descobri este blog por acaso.... parabéns, o Guardian é de facto a referência.

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